Brasileiros ainda continuam à espera de atitudes para se espelharem
A decisão, por sete votos a quatro, por parte de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), de incluir na proposta orçamentária de 2019 a previsão de um reajuste de 16,38% em seus próprios salários, enfraquece a imagem da instituição perante a opinião pública.
Com seu papel já bastante questionado em decorrência do modus operandi nos julgamentos relativos à sucessão de escândalos envolvendo empresários, políticos, governantes – e até mesmo membros do Judiciário –, a Suprema Corte do País agora deverá ser alvo de críticas mais fortes daqueles que se sentem indignado com o desemprego, a redução de renda, a falta de asssistência na saúde pública e vagas nas creches de nas escolas públicas, por causa do aperto nos gastos dos governos.
Em meio a um dos processos eleitorais mais imprevisíveis, o que só piora as condições macroeconômicas, dificultando a transição do fim de uma atividade econômica de baixos sinais vitais para o início de uma retomada, os brasileiros recebem um novo – e mau – exemplo vindo de cima.
Os ministros do STF podem ter razão em garantir a reposição total do poder de compra de seus salários – o que deveria ser um direito de todos os trabalhadores –, mas o contexto especial poderia ter sido levado em conta: o déficit primário (receitas menos despesas, sem os juros da crescente dívida pública) já está em R$ 139 bilhões ao ano. Elevar dos atuais R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil mensais o salário dos ministros da Corte, valores expressivos se confrontados com a desigualdade salarial e social brasileira, ressalta a diferença no tratamento entre a elite do funcionalismo público e a grande maioria dos trabalhadores.
As consequências da decisão de sete ministros do STF são de grande dimensão. O reajuste pode justificar aumentos para deputados, senadores, Judiciários estaduais, enfim, o “efeito cascata” que faz a alegria de quem tem poder de usufruir da grande “mãe” que é o Estado brasileiro, para alguns. Se o reajuste for mantido, eis mais um problemão para o próximo governo.
Fonte: www.dci.com.br – 10/08/2018